Pintor
suíço terceiriza com brasileira
[swissinfo,
por Alexander Thoele]
Jérôme Rudin é um artista que parece
ter alcançado tudo que sonhou: com apenas 29 anos
e um rosto que lembra um artista de cinema, o jovem suíço
expõe e vende suas telas em galerias prestigiosas
e freqüenta os melhores círculos da alta sociedade.
Fotos publicadas em colunas sociais e na imprensa mostram
o "chuchu das noites mundanas, como Rudin é
descrito pelo "Le Matin, como um "dandy"
inglês: camisas de seda entreabertas exibindo um
crucifixo de ouro, ternos finos, relógios caros
no pulso, cachecol no pescoço, cabelos louros presos
com brilhantina e a pele perfeita e bronzeada.
Atualmente Jêrome Rudin passa suas férias
no Caribe. Enquanto isso, na distante Suíça,
soam os tambores da imprensa.
foto:
Jérôme Rudin apresenta suas pinturas
com violinos durante exposição em
Montalchez (imagem: http://www.ma-galerie.ch/rudin)
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O
jornal Le Matin acaba de publicar uma série de
reportagens acusando o jovem pintor de encomendar suas
próprias obras a artistas desconhecidos.
A capa do terceiro jornal mais lido da Suíça
de expressão francesa de 16 de dezembro destaca
em letras garrafais o escândalo que sacode o mundo
da arte na Suíça: "A exposição
de Jérôme Rudin uma grande mentira.
Segundo o Le Matin, o quadro intitulado Violon N°
111 teria sido pintado por Eliana dos Santos. (imagem:
www.ma-galerie.ch/rudin)
Segundo o Le Matin, o quadro intitulado "Violon N°
111" teria sido pintado por Eliana dos Santos. (imagem:
www.ma-galerie.ch/rudin)
Produção artística em ritmo de fábrica
O autor da matéria, Michel Jeanneret, conta que,
das 40 pinturas de uma série intitulada "Ali
Baba e seus 40 valores, nenhum foi pintado pelo
próprio Rudin, mas sim por uma brasileira.
Eliana dos Santos, 34 anos, é uma artista originária
do interior de São Paulo e vive na Suíça
desde 1994. Apesar de considerar arte "como a atividade
mais importante na sua vida, ela é autodidata
e "pinta desde criança.
O jornalista revela que Jérôme Rudin adota
técnicas curiosas para realizar sua arte. "Sua
única intervenção sobre os quadros
preparados por Eliana foi a colagem sobre as telas de
um ou mais violinos cortados em papel e depois sua assinatura
na parte inferior à direita.
A reportagem conta que Eliana dos Santos trabalha para
Jérôme Rudin há mais de dois anos
e recebe 200 francos suíços (160 dólares)
por cada quadro que pinta.
As pinturas da série "Ali Baba e os 40 valores
estão expostas numa conhecida galeria de arte em
Montalchez e são vendidas por 5.300 francos suíços
(4.230 dólares) a unidade. Segundo o "Le Matin,
até hoje já foram vendidos 15 quadros. A
exposição realiza-se até o final
de dezembro.
Entrevistada, Eliana explicou por que aceitou essas duras
condições de trabalho. "No início
eu aceitei lhe dar uma ajuda. Estava muito sozinha na
época e essa era uma oportunidade de me integrar
mais na Suíça. Reconheço também
que sua fama me impressionou.
Eliana descreve ao "Le Temps a grande lista
de encomendas pedidas pelo bem-sucedido pintor Jérôme
Rudin: cem quadros, setenta desenhos de veleiros sobre
tela e colados em cartão, trinta vasos, duas esculturas
de peixes e outros trabalhos de decoração.
Reação de um artista surpreendido
Apesar da distância geográfica entre as ilhas
do Caribe e a Suíça, Rudin não esperou
muito tempo para reagir às acusações.
Estas podem, afinal, até arruinar sua carreira.
(ler reportagem "Pintor nega e depois confessa")
Através de um advogado, o pintor enviou em 18 de
dezembro um press-release à imprensa, refutando
as acusações de "mentira, implicando
que ele teria abusado do público sobre suas qualidades
artísticas, conhecidas no mundo inteiro há
mais de dez anos.
Sem esquecer da sua auxiliar brasileira, ele a qualifica
no seu texto como "uma artista desconhecida, cuja
formação se assemelha muito mais a de uma
decoradora. (ler reportagem "Pintora brasileira
não quer processo mas a verdade").
Para defender sua técnica de finalizar obras de
arte realizadas por ajudantes, Rudin lembra que outros
mestres na história da arte já empregaram
o mesmo método: - "esse procedimento não
tem nada a ver com fraude, já que artistas conhecidos
como Rubens ou Andy Warhol também já utilizaram
o mesmo artifício.
Rudin e os escândalos na imprensa
Segundo o "Le Matin", a carreira de Jérôme
Rudin destaca-se por uma longa lista de pequenos escândalos
publicados pela imprensa.
Em 1999 o jornal suíço "24 Heures
acusou Rudin de plagiar o pintor Olivier Saudan. Em 2000
o "Dimanche.ch revelou uma dúzia de
processos movidos contra o artista, incluindo fraudes
e contas não pagas, como pelo aluguel de um helicóptero.
Na reportagem atual, o "Le Matin afirma que
Rudin utilizou uma técnica para se tornar, em pouco
tempo, um artista conhecido nas colunas sociais francesas
e suíça:
"Rudin costuma apresentar uma lista fictícia
de compradores, que inclui personalidades como o príncipe
Alberto de Mônaco e o príncipe Emmanuel-Philibert
de Savoie, herdeiro do trono italiano. Na verdade, essas
celebridades teriam recebido os quadros de graça
do próprio artista.
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