|
A Nestlé conhece
bem o Brasil e quase todos os brasileiros conhecem a Nestlé
O diretor-presidente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita,
fala sobre a sua carreira, vida pessoal e situação da empresa
no Brasil.
"A
Nestlé Brasil tem o gosto do Brasil e boa parte dos brasileiros
também têm o gosto da Nestlé. Outro princípio
é não importar matéria prima. Somos os maiores
compradores de produtos agrícolas no Brasil" |
[entrevista concedida
a Claudinê Gonçalves, swissinfo,São Paulo] Foto: Ivan
Zurita, diretor-presidente da Nestlé do Brasil (foto: divulgação)
Com
25 fábricas e 15 mil funcionários, a Nestlé está
no Brasil há 82 anos e vai ficar para sempre, segundo o brasileiro
Ivan Zurita, diretor-presidente da Nestlé Brasil. Dentro do grupo
Nestlé, a Nestlé Brasil tem atualmente o 2º maior volume
de vendas, depois dos Estados Unidos, apesar da grave crise econômica-social
que o Brasil ainda atravessa. A influência da Nestlé Brasil
é tal que não há presidente da República,
ministro ou governador que não conheça pessoalmente o diretor-presidente.
Quando a missão econômica suíça, composta de
empresários e dirigida pelo ministro da economia, Joseph Deiss,
chegou a Brasília, na manhã de 7 de setembro, Ivan Zurita
estava assistindo ao desfile militar ao lado do presidente Lula e de um
grupo de estudantes.
Avenida Zurita, Araras
A Nestlé havia organizado um concurso de frases cívicas
nas escolas de todo o país e levou os vencedores para assistir
ao desfile no palanque presidencial. Os empresários suíços
acompanham o ministro da economia para estabelecer contatos diretos com
os governos onde têm negócios. O ministro "abre as portas"
para os empresários, o que é perfeitamente rotineiro e natural.
A Nestlé participa
mas quase que ao contrário. Ela não "usa" a influência
política do ministro mas explica aos empresários suíços
sua experiência e as oportunidades de negócios no país.
Ao invés de servir-se da missão econômica, é
a missão econômica que se serve da experiência da Nestlé.
Ivan Zurita nasceu
em Araras, no interior de São Paulo, e não perdeu o sotaque
interiorano. Araras é a cidade onde a Nestlé construiu sua
primeira fábrica no Brasil, hä 82 anos atrás. A Nestlé
de Araras fica na avenida Zurita, em homenagem ao avô de Ivan.
Ninguém da família trabalhava na Nestlé, mas os amigos
de infância, que ele mantém até hoje, eram filhos
de funcionários da empresa. Mais tarde ele "encontrou"
o sogro suíço que, ele sim, tinha trabalhado na Nestlé.
A ampla sala de Ivan
Zurita no 18º andar da sede da Nestlé Brasil, em São Paulo,
tem dois ambientes e é discretamente decorada com alguns quadros
e um vaso de orquídeas brancas, perto da grande janela de vidro
com vista para a nova área de concentração de sedes
de empresas e grandes hotéis, na av. das Nações Unidas.
Numa sala pequena, ao lado, onde ele se reune com os diretores, estão
os troféus e diplomas de que se orgulha : empresa mais procurada
para trabalhar, agradecimento dos produtores de leite, troféu dos
produtores de café, empresa mais inovadora etc. Numa outra sala
de reunião estão as embalagens de todos os produtos que
a Nestlé fabrica no Brasil "para não esquecermos de
nossa responsabilidade" afirma.
Swissinfo: Quando o sr. começou a trabalhar na Nestlé?
Ivan Zurita: Estava estudando economia na Universidade Mackenzie, em São
Paulo, e a faculdade exigia estágios nas empresas. Vim para a Nestlé
por seis meses e estou aqui há 30 anos.
Esse estágio era de quê?
Pesquisa de mercado, de porta em porta. Depois fui para o marketing e
comunicação, para a área comercial, estudei em Nova
York e administração no IMD de Lausanne, na Suíça,
mas nunca mais saí da Nestlé.
Como o sr. saiu do Brasil?
Estava na área comercial aqui em São Paulo e fui enviado
ao Chile para fazer um projeto de uma aquisição de uma empresa
de lá. A aquisição foi concluída, mas meu
diretor aqui disse que eu tinha de ir para lá. Depois trabalhei
na Argentina, na América Central, onde a Nestlé também
tem uma presença importante, e depois no México, já
como diretor-presidente. Depois de 17 anos fora, voltei para o Brasil
há três anos. Posso dizer que conheço bem a Nestlé
na América Latina.
Com uma carreira dessas, geralmente, depois do Brasil,
a próxima etapa é ir para a direção geral,
na sede da Nestlé em Vevey, na Suíça, não?
Isso é uma pergunta a ser feita à direção
geral, justamente. É ela quem decide mas estou muito feliz de ter
voltado ao Brasil e temos muitos projetos aqui. Quando estive no México,
ultrapassamos o Brasil mas agora já ultrapassamos o México
novamente. A Nestlé Brasil já é a segunda do mundo
em volume de vendas, depois dos Estados Unidos. Este ano nosso faturamento
previsto é de 9,5 bilhões de reais (3,3 bilhões de
dólares).
O potencial de crescimento no Brasil ainda é
muito grande?
Uma empresa que produz alimentos não pode admitir trabalhar num
país onde existam famintos. 40 milhões de pessoas no Brasil
estão à margem da sociedade de consumo. Temos que dar nossa
contribuição mas o potencial é enorme. O Brasil é
um país difícil e complexo mas apaixonante. Sou um entusiasta
do nosso país.
O momento é propício?
A Nestlé não faz política. Ela não atua contra
ou a favor de governos, mas ao lado deles. Acho que as reformas em curso
estão na boa direção e estou muito otimista.
Qual o segredo da Nestlé?
Nossa linha de atuação sempre foi produzir com qualidade
para o maior número possível de consumidores. Para isso
temos de estar muito perto deles. A Nestlé
Brasil tem o gosto do Brasil e boa parte dos brasileiros também
têm o gosto da Nestlé. Outro princípio é não
importar matéria prima. Somos os maiores compradores de produtos
agrícolas no Brasil. Temos também uma equipe muito boa.
Como vocês fazem para conhecer o consumidor?
Temos uma central telefônica que recebe 10 mil ligações
por dia de consumidores. Numa campanha que fizemos no ano passado, recebemos
75 milhões de cartas. Nossas pesquisas indicam que temos 94% de
penetração nos lares brasileiros. A globalização
é dos mercados, mas não dos consumidores.
Nos últimos tempos fala-se de responsabilidade
social das empresas. O que a Nestlé faz nessa área?
220 mil famílias no Brasil vivem dos salários diretos e
indiretos pagos pela Nestlé Brasil. Temos vários projetos,
especialmente um de ensino de princípios de uma alimentação
correta nas escolas. Nossos funcionários que são voluntários
nesse projeto são liberados duas horas por semana para essas atividades.
Também estamos participando, entre outros, do programa Fome
Zero lançado pelo presidente Lula.
A Nestlé não é isenta de críticas.
Volta e meia surgem novas denúncias, como foi o caso recentemente
das fontes de água mineral de São Lorenço, em Minas
Gerais.
São Lorenço vive da água mineral e houve problemas
nos lençóis freáticos provocados por inundações
que nada tinham a ver com a Nestlé. Como temos muitos produtos,
temos também muitos concorrentes. Muitas vezes, as denúncias
provém dessa situação.
|
|